Positividade tóxica, desinformação ou desinteresse?
- Maria Letícia
- 1 de out. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de out. de 2021
Ana era uma adolescente que tinha muitos conflitos com sua mãe, que não concordava com o seu jeito de ser e nunca estava satisfeita com nada que fizesse. Por muitas vezes, Ana sentiu-se estranha e muito solitária, mesmo estando rodeada de pessoas da sua própria família. Seus pais não eram pobres, muito pelo contrário, tinham condições de proporcionar uma ótima qualidade de vida e acesso material. Contudo, o privilégio financeiro não supria as suas emocionais e afetivas. Ana não era uma adolescente feliz, era retraída e extremamente insegura.
Não era raro quando Ana expressava suas dores e emoções para outros familiares e até mesmo amigos. Ela se abria e dizia o quanto se sentia vulnerável pelas suas dificuldades no relacionamento com seus pais. E o que Ana ouvia?
- Mas veja, pelo menos seus pais te dão tudo.
- Poderia ser pior, olha quantas crianças moram em orfanatos.
- A vida é dura mesmo.
- Tem gente que sofre mais.
- Não podemos reclamar, nós temos tudo, quantos não gostariam de ter o que nós temos?
Culturalmente, consideramos as falas acima como "normais" quando não o são.
Tratam-se de uma invalidação de sentimentos por meio de falas de positividade tóxica. Como se por você ter um determinado ganho de um lado (no caso material) você não tivesse o direito de sentir dor por outro motivo (emocional). É como se fôssemos obrigadas a anular o que sentimos porque devemos sempre nos comparar às pessoas que estão em situações mais desfavoráveis que a nossa.
Exemplo 1: uma moça foi insultada pelo seu companheiro e por esta lógica, ela deveria relevar porque há mulheres que apanham de seus companheiros?
Exemplo 2: uma profissional que sofre assédio moral no trabalho constantemente ouvir que "deveria agradecer por ter um emprego e o que comer".
Exemplo 3 (esse exemplo é real): quando trabalhava em ONG, recebi o pedido de uma pessoa que queria levar seus filhos para conhecer uma Casa Lar (antigo orfanato) para que eles dessem valor ao que eles tinham (no caso um teto e uma família). Logicamente eu não dei continuidade nesta ideia.
O fato de existirem situações de vida extremas e muito ruins vividas por outras pessoas, as quais nós sabemos e também nos solidarizamos, não faz com que a nossa dor seja menor. Dor é dor e ninguém irá simplesmente parar de senti-la porque a situação poderia ser pior do que já é.
E por qual motivo agimos desta forma?
Seria pela ignorância de não percebemos a perversidade que há por trás da invalidação de sentimentos, ou então, porque não queremos nos incomodar acolhendo e ouvindo os problemas das outras pessoas e este discurso seria uma forma de "resolver" o assunto?
O que você acha disso?
Todos nós já sofremos invalidações de sentimentos e também, invalidamos os de alguém. Contudo, a partir do momento em que alcançamos a consciência do quanto essa prática é nociva, temos a oportunidade de mudar a nossa forma de agir em nossas relações e acolher mais os que precisam, deixando-os livres para expressar o que estão sentindo.
Deixar de ser um positivista tóxico significa escolher o caminho do não julgamento e permitir que cada indivíduo viva suas emoções, sentindo-se acolhido e livre para se expressar.
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