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Você tem medo de sofrer?

  • Foto do escritor: Maria Letícia
    Maria Letícia
  • 19 de out. de 2021
  • 3 min de leitura

O desconforto com uma caverna levou o homem a construir casas.

O desconforto da falta de alimentos, levou o homem a aprender a plantar e criar animais.

O desconforto com as doenças, levou o homem a criação de remédios e desenvolvimento da medicina.

O desconforto da desordem social, levou o homem a criar as leis.

O desconforto com o trabalho injusto, levou o homem a lutar por seus direitos.

O desconforto com seu papel secundário na sociedade, levou mulheres e lutar pela sua liberdade e direitos civis.

O desconforto das guerras, levou nossos ancestrais a migrar para outros países.


Ontem, na primeira turma do curso Reaprendendo a Sentir , dei uma aula sobre Neurobiologia e Primatologia, sob a luz dos ensinamentos científicos de Antonio Damasio e Robert Sapolsky.


A aula que teve como objetivo conversar com a mente racional e fazê-la entender que se abrir para a jornada do coração é algo seguro.


E o primeiro passo para isso é desconstruir a ideia de que sofrimento é nocivo, que devemos evitá-lo a qualquer custo, só pensar positivo e que construir um mundo SOMENTE baseado em coisas e sentimentos bons é possível.


Não é.


O fato é, não estou aqui para romantizar mazelas sociais, pois não é sobre esta perspectiva.


O meu ponto é sobre o sofrimento aliado à racionalidade e oportunidades que produz transformação. Sofrimento por sofrimento leva à estagnação. É preciso criar espaço para que ele se manifeste como uma solução do desconforto primário.


Sofrer é ruim sim, mas nem tanto. Não sob o ponto de vista da evolução humana. Ruim mesmo é não ter voz, espaço ou oportunidade de fazer o seu desconforto virar outra realidade. De não poder sequer transformar-se, pois não há condições para tal (aqui cabe as mazelas sociais).


Portanto, a partir de hoje pare de buscar um mundo perfeito e olhe com cuidado o seu desconforto. Busque de forma crítica, avaliar formas e condições de agir em cima dele para atingir alguma transformação.


Parece fácil falar, mas e na prática?


Na prática, milhares de mulheres vítimas de algum tipo de violência são hoje, cabeças de movimentos transformadores e acolhedores para outras mulheres que sofrem o mesmo mal. Pais de crianças com algum tipo de deficiência que encabeçam movimentos sociais em prol da inclusão. A minha própria história com a Escola do Coração foi baseada em uma dor e sofrimento que gerou uma necessidade profunda em compreender e ensinar sobre sentimentos e emoções.


Podemos (e devemos) tentar de tudo, exceto, mantermos na estagnação.


Mas e no caso de pessoas com traumas, transtornos e depressão?


Neste caso, o que pode ser feito para que o trauma, transtorno ou depressão possam ser tratados? A resposta é buscar ajuda médica ou terapêutica, que por si só, já é um indicativo de se movimentar e sair da estagnação. É um grande passo para a solução e enfrentamento do problema.


Portanto, a partir de hoje, vamos abraçar o nosso desconforto. Primeiramente, parando de buscar soluções mágicas que não existem. Promessas de ganhos fáceis e um mundo perfeito, onde só reside a felicidade e a abundância, pois isso também não existe. Negar que o desconforto existe, não o faz deixar de existir. O medo de sentir dor, também é uma dor.


O movimento é natural, portanto, altos e baixos são naturais, alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, tudo isso é natural. E um mundo melhor passa pela ideia de que todos possam se movimentar em seus desconfortos e juntos, criar uma nova realidade, melhor, mas que também terá seus momentos de desconforto.






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